Mais do que características únicas na morfologia da região, o Alvarinho de Monção & Melgaço é, na sua essência, o resultado de um saber coletivo, um acumular de experiências e saberes, um património cultural que as gerações anteriores nos deixaram .
É neste território que encontramos a essência e a origem do Alvarinho e foi deste cantinho de Portugal que este néctar partiu à conquista do resto do país e do mundo.
Os encantos da casta Alvarinho começam na terra e terminam na boca, sendo a sua história ainda mais deliciosa.
Foi em Monção e Melgaço que esta casta teve origem e onde iniciou a sua evolução, o que aconteceu mesmo antes da existência de qualquer registo escrito.
UM TERRITÓRIO VÍNICO COM SÉCULOS DE HISTÓRIA
O vinho tem, em Monção & Melgaço, uma enorme importância histórica e cultural e esteve sempre presente nos usos e costumes das suas populações. Se durante o período medieval, os registos históricos aludem ao importante papel de cariz económico que o vinho representa para os locais, como fonte de rendimento e sustento, a presença da vinha nesta região é, no entanto, testemunhada por inúmeras evidências arqueológicas.
A cultura do vinho, em Monção & Melgaço, recuou à segunda metade do século I ac. , como testemunham as ânforas vinárias para o transporte de vinho aqui encontradas e que demonstram o quanto o vinho fazia parte integrante da dieta das comunidades castrejas que habitavam a região. Os bagos de uva fossilizados encontrados evidenciam, também, essa presença não demonstrando, porém, qualquer certeza sobre a origem das castas, o que permite várias teorias entre os especialistas. Uma certeza pode ser atestada: a vinha tem uma presença milenar nesta região!
O vinho entrou na economia local e potenciou redes comerciais com povos de regiões muito distantes, incentivando a troca de saberes e a criatividade local nas tecnologias de produção e conservação do vinho. O consumo e presença do vinho nestas sociedades marcou as suas vivências sociais e seu mundo simbólico. No entanto, a viticultura terá permanecido incipiente até ao século XII, altura em que o vinho entra, definitivamente, nos hábitos das populações do Entre-Douro-e-Minho.
OS FORAIS CONCEDIDOS AOS DOIS CONCELHOS REFORÇAM E RECONHECEM A POSSE DAS VINHAS AOS SEUS HABITANTES
O foral atribuído a Melgaço (1181-1185), por D. Afonso Henriques , primeiro rei de Portugal, reconhece a existência de vinhas e de produção de vinhos “ os moradores nada pagarão do pão e do vinho que colherem ” Augusto César Esteves escreve “ quando Melgaço nasceu para a História verdejavam nesta encosta de vinhas de Eiró, enquadradas por castanheiros e árvores de fruta. A tal cultura já se refere a um documento da era de 1282… ” .
O mesmo acontece com Monção, onde a posse de vinhas é reconhecida no Foral atribuído a esta vila por D. Afonso III , no dia 12 de março de 1261: “ Não eram vinhos de plebe, mas de fidalgos de velha estirpe e nobreza reconhecida , a ponto de, sendo proibido nas casas nobres a venda de qualquer vinho, só aos fidalgos de Monção era dado o privilégio de os atabernar… ”
O incremento surgido a partir do XII partiu da iniciativa das ordens religiosas que cedo se instalaram na Península Ibérica para solidificar a fé cristã. O esforço de povoamento do interior do país leva à construção de mosteiros e conventos, sendo de destacar a Ordem de Cister, pela divulgação e implementação de técnicas na vinha e na adega. Esta é a ordem religiosa mais ligada à história e ao desenvolvimento do vinho. É exemplo disso o mosteiro de Fiães, em Melgaço, mosteiro masculino da Ordem Cisterciense construído no séc. XII.
Também foi importante a contribuição da Coroa neste domínio, que incrementava a rentabilização das terras e a fixação da população. Esta atividade solidifica-se com a estabilização do Reino de Portugal em termos militares, territoriais e sociais.
A expansão demográfica e económica, a intensificação da mercantilização da agricultura e a crescente circulação de moeda, fizeram do vinho, uma importante e necessária fonte de rendimento. Embora a sua exportação fosse ainda muito limitada, a história revela-nos, que terão sido os «Vinhos Verdes» os primeiros vinhos portugueses conhecidos nos mercados europeus (Inglaterra, Flandres e Alemanha), principalmente os desta sub-região e os da Ribeira Lima .
O reconhecimento da elevada qualidade do vinho de Monção e Melgaço além-fronteiras remonta ao século XIV. Nessa altura, o vinho desta região era fortemente procurado pelos ingleses, que se dirigiam a Portugal para trocar bacalhau pelo vinho aqui produzido. Segundo a obra do Conde d'Aurora, “Itinerário do primeiro vinho exportado de Portugal para a Grã-Bretanha” o primeiro vinho exportado com regularidade partiu da região de Monção. Já o Visconde de Vila Maior, afirma ter sido o Vinho Verde o primeiro vinho português exportado para Inglaterra, saído pela barra de Viana do Castelo.
No decorrer do século XV, o porto de Viana do Castelo foi fulcral para a movimentação dos vinhos da região. A Viana chegavam vinhos, quer da Ribeira-Lima, quer da região de Monção, sendo enviados para o Norte da Europa e, também, exportados para outras zonas do Globo onde estavam radicados nas comunidades minhotas - o caso do Brasil (no entanto, para estas zonas longínquas, o comércio era parco). Assim, no que diz respeito à produção e recepção do vinho, os dados da Alfândega de Viana, relativamente às exportações, parecem demonstrar que, a partir do século XVI, o vinho era um produto importante nas transações comerciais. A maioria do vinho comercializado tinha origem neste território, sendo o restante produzido na Ribeira-Lima. Este último chegava a Viana, por barco, trazido nas embarcações tradicionais de «água-arriba». No porto de Viana era embarcado rumo ao Norte da Europa, principalmente Inglaterra e Flandres, acompanhando pelo sal que servia como camada para colocar os barris e completava o lastro dos navios.
No século XVII, na sequência do crescimento da comunidade inglesa no nosso país, registou-se um aumento da produção de vinho. Este aumento traduziu-se no acréscimo do número de tanoeiros arrolados no final do século e, consequentemente, no aumento da importação de aros e aduelas.
Durante o século XVIII, o ritmo ascendente do comércio, na nossa localidade, teve um súbito revés com a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1756). Com esta nova realidade assistiu-se à perda gradual de importância dos vinhos produzidos na região face ao monopólio dos vinhos do Douro. Isto motivou a elaboração de uma petição dos comerciantes vianenses a D. Maria I. No entanto, a monarca não correspondeu às intenções dos assinantes do documento, travando o desenvolvimento comercial deste produto. Nesta conformidade, o Vinho Verde tornou-se, a partir de então, num produto que servia quase exclusivamente para consumo interno, pelo menos até à criação da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, em 1908.
Nos finais do século XIX e início do século XX, as pragas da Filoxera e do Oídio, devastaram quase na totalidade as vinhas. Para fazer face a este cenário, o governo da altura cria uma normativa que, seguindo uma orientação para a qualidade, o regulamento da produção e comércio do «Vinho Verde», culmina na Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908 e no decreto de 1 de Outubro, do mesmo ano. Com estes documentos é demarcada, pela primeira vez, a «Região dos Vinhos Verdes» . As características do Vinho Verde encontram-se descritas em imensos escritos e tratados, nos quais podemos encontrar referência não só aos benefícios obtidos pelo seu consumo, mas também a contemplar aos excessos obtidos pelo mesmo. É um vinho original e único da viticultura portuguesa.
CRIAÇÃO DA SUB-REGIÃO DE MONÇÃO E MELGAÇO
Questões de ordem cultural, tipos de vinho, encepamentos e modos de condução das vinhas obrigariam à divisão da Região Demarcada em várias sub-regiões. Com a criação da sub-região de Monção e Melgaço, o vinho desta região ficou para sempre associado à casta alvarinho. Com o tempo, ele adquiriu uma importância cultural e económica insubstituível, tornando-se parte da identidade desta região. Com o passar dos anos, a produção do vinho Alvarinho ganhou forte implementação, alcançando significados impressionantes, movimentando valores apreciáveis e promovendo marcas de ótima qualidade, reconhecidas no mercado nacional e internacional.
Foi no ano de 1920 que apareceu o primeiro vinho comercializado com a marca “Alvarinho”, como comprovativo do rótulo da garrafa de “Casa de Rodas”. Várias quintas de Monção e Melgaço, como a Quinta de Rodas, Quinta de Serrade, Quinta de Juste, Quinta da Brejoeira, Casa de Queirão, Casa da Cabana, vão dar ao alvarinho o caminho para o alto prestígio de que hoje goza. Para esse prestígio e promoção, coube à marca Cepa Velha de Monção um papel incontornável, pois foi a primeira que teve um grande impacto na recepção do alvarinho. A esta visibilidade e importância do alvarinho por iniciativa local, correspondeu o Estado com o Decreto nº 16 684, de 22 de Março de 1929 , que assinala, no seio da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, uma particularidade da sub-região de Monção (que englobava os dois concelhos).
No dia 11 de Outubro de 1958, um grupo de empreendedores, na sua maior parte proprietários das grandes quintas produtoras de alvarinho, constitui a Adega Cooperativa de Monção (cujo vinho provém de uvas oriundas dos dois concelhos). Esta decisão colocou a produção e decidiu do alvarinho dentro da esfera de todos os produtores, o que consolidou o vinho da Região, enobrecendo a marca Alvarinho.
Pelo decreto-lei nº 275/73, confirmou-se e legalizou-se uma tradição, reservando a designação ALVARINHO, ao vinho verde produzido apenas na sub-região de Monção e Melgaço, em terrenos de meia encosta, da bacia hidrográfica do rio Minho , obter pela produção e transformação de uma única casta de uva branca, assim designada. É nesta sub-região (concelhos de Monção e Melgaço) onde existem as condições ideais de microclima e solo para o cultivo e controlo desta uva única e genuína, que dá origem a vinhos com características organolépticas distintas aos de outras regiões do Vinho Verde.
Ao longo destes anos a identidade do Alvarinho de Monção e Melgaço foi-se afirmando e o seu reconhecimento alargou-se para os quatro cantos do mundo, tendo angariado uma notoriedade internacional. A sua personalidade e caráter são tão marcantes como a terra que lhe dá a origem.
MONÇÃO E MELGAÇO A ORIGEM DO ALVARINHO - A CERTIFICAÇÃO E O SELO DE GARANTIA EXCLUSIVO MONÇÃO & MELGAÇO
O território de Monção e Melgaço tornou-se um dos centros de excelência mundial na produção de vinhos brancos de qualidade. Para garantir a autenticidade, origem e qualidade dos vinhos aqui produzidos foi-lhes atribuído um selo de garantia exclusivo pela Comissão dos Vinhos Verdes, afirmando um segmento de maior valorização dentro do universo que é o “Vinho Verde”.